quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Castrar ou não castrar - para quem ainda tem dúvidas sobre castração precoce

A clínica veterinária de pequenos animais lida com essa questão com grande frequência. Todos os dias há proprietários de gatos me procurando em busca de informações acerca da castração dos seus animais, tanto os machos quanto as fêmeas. Quais são as vantagens? E quais são as desvantagens?

Esse é um assunto muito amplo e eu pretendo abordar completamente em dois artigos.

Vamos falar sobre a castração no gato macho, com as dúvidas mais frequentes e comportamento sexual. Cabe falar também sobre as vantagens e desvantagens da castração, cuidados que devemos ter no pós-operatório e com o gato castrado pelo resto da sua vida. As mesmas dúvidas envolvem a castração da fêmea, bem como a importância dos hormônios, e as vantagens e desvantagens. Também abordarei o cuidado pós-operatório e a atenção especial dada à fêmea castrada.

Antes de falar sobre castração vamos conceituá-la. A contracepção cirúrgica é a retirada das gônadas. No macho a contracepção cirúrgica conta com a retirada dos testículos, por incisão no escroto. Na fêmea a cirurgia envolve a retirada dos ovários e cornos uterinos. A castração do macho então é conhecida por orquiectomia em bolsa (retirada dos testículos localizados na bolsa escrotal) e na fêmea chamamos de Ovário-salpinge-histerectomia (retirada de ovários, salpinge e útero) ou, para os íntimos, OSH. A contracepção cirúrgica da fêmea pode ser realizada pela retirada apenas dos ovários, entretanto muitos clínicos optam pela retirada dos cornos uterinos no intuito de evitar a ocorrência de doenças uterinas. A contracepção também pode ser realizada pela vasectomia ou ligadura da tuba de salpinge, entretanto o comportamento sexual do animal continua a ser expresso.

Vantagens e desvantagens:

Há muitas indicações para a castração em fase pré-puberal (antes da puberdade) e diversos estudos já foram conduzidos para avaliar as condições e consequências dessa prática. Havia a preocupação acerca da mobilização do sistema imune do animal castrado nessa fase, devido ao estresse causado pela cirurgia e anestesia, entretanto estudos em gatis foram realizados e gatinhos castrados nessa fase não estão mais propensos à infecções do que aqueles castrados na idade adulta (HOWE e OLSON, 2000). Hardie (2007) relata que em um estudo realizado em 859 gatos foi observada uma maior incidência do comportamento mais reservado, medroso, naqueles gatos castrados em fase pré-puberal quando comparados com gatos castrados em idade adulta, porém observou-se também uma menor incidência de asma felina, gengivite e hiperatividade nesses gatos.

Foi observada menor incidência do comportamento de marcação de território por urina em spray, brigas e passeios nos gatos machos castrados. Aqueles que foram castrados antes de 5,5 meses também apresentaram menor incidência de abscessos, agressão ao veterinário (isso é bom), comportamento sexual e marcação de território por urina em spray, quando comparados com gatos castrados em idade adulta (HARDIE, 2007). Então quando castramos o machinho espera-se que ele deixe de sair de casa para namorar, evitando-se assim as brigas com outros gatos e diminuindo com isso as chances dele contrair uma série de doenças infecto-contagiosas.

A castração também pode apresentar efeitos sobre o desenvolvimento da genitália externa. Em um estudo, gatas castradas às 7 semanas ou aos 7 meses apresentaram vulva infantil (menor que a vulva adulta), entretanto não há relatos de doenças como vaginite ou dermatite da região ao redor da vulva, devido ao tamanho da mesma, em gatas. A testosterona é responsável pelo desenvolvimento adulto do pênis, prepúcio e das espículas penianas em gatos. Foi observado que a exposição peniana, como procedimento veterinário, pode ser mais difícil quando o gato é castrado às 7 semanas ou aos 7 meses, devido ao menor desenvolvimento das espículas penianas (REICHLER, 2008).

A castração em machos previne doenças em epidídimo ou testículos, como torção testicular ou neoplasia, entretanto elas são bastante raras em gatos.

As desvantagens na castração envolvem a própria esterilização do animal. Após esse procedimento ele não estará mais apto a reproduzir.

Diversos estudos também já foram conduzidos no intuito de verificar se há correlação entre a castração precoce e o desenvolvimento da FLUTD (Doença do trato urinário inferior felino). Não foi evidenciada a correlação entre o aparecimento da FLUTD e a castração em qualquer idade. Entretanto quando considerados os grupos de gatos castrados e OBESOS, o risco do desenvolvimento de FLUTD foi maior.

Embora a obesidade possa ocorrer em gatos castrados ou não, há estudos que mostram que gatos castrados apresentam 3,4 vezes mais chances de se tornarem obesos, quando comparados com gatos inteiros. A obesidade não é necessariamente uma consequência da castração, entretanto é importante controlar o peso de animais castrados. A obesidade pode ser prevenida com simples ações como a administração de alimentos com menor quantidade de gordura e em refeições controladas. A prevenção da obesidade é importante para se evitar doenças decorrentes da mesma, como a diabetes melittus, e também evitar os efeitos negativos na expectativa de vida. O paciente castrado possui as mesmas necessidades energéticas que um paciente não castrado, para manutenção da vida. Entretanto o gato castrado, por ter inibido o seu comportamento de atividade sexual, pode se tornar mais sedentário. Isso não é uma verdade para todos os gatos, apenas uma possibilidade. É recomendado que o paciente castrado faça uso de uma ração apropriada para animais castrados.

Estudos mostram que a castração precoce não tem influência no crescimento dos animais, porém há sim um retardo no fechamento da placa fiseal (placa de crescimento do osso). Em gatos castrados precocemente foi observado um comprimento cerca de 13% maior do osso rádio devido a esse retardo. Entretanto a susceptibilidade à fraturas também é maior nesses casos, principalmente quando há obesidade associada.

Segundo Reichlerproprietário do animal castrado, quando comparado à grande parte dos proprietários de animais inteiros.

Procedimento cirúrgico no gato macho:

O gato a ser castrado deve ser avaliado criteriosamente pelo veterinário para a estimativa do risco anestésico. Pacientes jovens e saudáveis, que não apresentam doença sistêmica, como problemas renais ou hepáticos, possuem um risco anestésico baixo. Fatores que aumentam o risco anestésico são idade maior que sete anos e doenças concomitantes.

Claro que quando decidimos castrar nosso gatinho não vamos levá-lo em uma situação crítica ameaçadora da vida. Geralmente o paciente da castração eletiva está saudável, se alimentando bem, com vacinas e vermifugação em dia. Então serão realizados exames pré-operatórios no gatinho para avaliação da condição física e escolha do protocolo anestésico mais seguro.

Por ser um procedimento rápido, alguns clínicos optam pela anestesia geral ou sedação de curta duração, cerca de 20 a 30 minutos, e um bloqueio anestésico local, visando a analgesia (ausência da dor) durante o procedimento. A incisão é realizada no escroto e túnicas que envolvem o testículo. Posteriormente há uma ligadura no plexo que irriga os testículos e no canal deferente. Há então a retirada das gônadas e geralmente a incisão do escroto não é suturada. Não se assustem porque o corte fica aberto sim. Essa região é bastante irrigada e geralmente quando há sutura da pele pode haver bastante edema (inchaço).

Por ser uma cirurgia pouco invasiva, alguns clínicos evitam usar antibiótico oral no pós operatório, apenas o anti-inflamatório e spray ou pomada cicatrizante. Entretanto o uso de antibiótico via oral por cerca de sete dias pode ser necessário. O spray ou pomada devem possuir na sua composição susbtâncias que promovam a cicatrização e evitem uma infecção local. Não é recomendado o uso de spray ou pomada com anti-inflamatórios esteróides pois esses vão retardar a cicatrização.

As orientações pós operatórias imediatas envolvem a administração dos medicamentos para evitar uma infecção, para controle da dor e para cicatrização da lesão. Geralmente o gato lambe tudo que for colocado ali então o uso de colar elizabetano por, ao menos, 3 dias pode ser recomendado.

Muitas dúvidas ainda podem surgir acerca da castração do gato macho. É importante que todas elas sejam esclarecidas antes do procedimento. O veterinário responsável pelo seu gatinho deve estar sempre à disposição para responder o que for necessário.

Eu tenho três gatos castrados, todos eles precocemente (aos 5,5 meses). E agora mesmo estão me rodeando para saber sobre o que estou escrevendo. Claro que o macho está se gabando por ter seu “sexo” tratado do primeiro artigo, mas como as fêmeas são maioria aqui em casa, ele está bem quietinho, não provocando a paciência delas.

É isso aí, daqui a 15 dias eu volto falando daquelas que também são castradas, exigem mais cuidado pós operatório e são mais do que especiais, as FÊMEAS (pronto, gatinhas, não precisam ficar com ciúmes).

Até mais!

Alice Albuquerque
diarioveterinaria.blogspot.com
twitter: @alicevet
http://www.tudogato.com/2010/10/castrar-ou-nao-castrar-dia-de.html#comment-form

Um comentário:

  1. A única coisa ruim da gata não castrada é a miação na fase do cio...ficam maluquinhas!!!Rola-rola o tempo todo!rsrsrs
    O gato castrado traz a vantagem que ele não sai do seu território quando há gatas no cio, logo, fica mais caseirão.

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