A doença em nossos animais de estimação é sempre algo que nos trás muita preocupação. Mas quando o tratamento envolve algum tipo de procedimento cirúrgico, a preocupação é ainda maior, e o medo de que algo dê errado e arrisque a vida de nosso peludo nos tira muitas noites de sono. São várias as dúvidas e incertezas em relação ao melhor momento, melhor cirurgião, técnica cirúrgica mais adequada, e principalmente, melhor forma de anestesia. Faz-se necessário então esclarecer algumas coisas a respeito disso, para que o animal passe pelo procedimento com o mínimo de riscos e o máximo de benefícios.
A primeira coisa a ser considerada é tipo de procedimento que será realizado, sua complexidade e o estado geral do animal. Para ser submetido a um procedimento cirúrgico, é importante que o quadro clínico esteja o mais estável possível, pois sabemos que todo e qualquer procedimento implica em riscos (maiores ou menores) e toda droga utilizada altera em algum grau o sistema cardiorespiratório. Dessa forma, um bom exame clínico aliado a exames pré-operatórios é importante e necessário. Essa é a primeira etapa do processo, e se chama avaliação pré-operatória. Os principais exames que devem ser realizados incluem o hemograma completo, função hepática, função renal, e em alguns casos, eletrocardiograma e raio X de tórax. Isso porque a maioria dos anestésicos injetáveis tem metabolização hepática e são eliminados por via renal, além de exercerem ainda ação sobre o coração e pulmão, portanto as funções destes órgãos devem estar preservadas.
Além disso, o estado nutricional, hidratação, quadro neurológico, doenças associadas e idade são fatores considerados. Em relação à idade, este sempre foi tido como um fator limitante para que o animal pudesse ser submetido a procedimentos cirúrgicos. No entanto hoje em dia, com o avanço tecnológico e desenvolvimento de drogas anestésicas potencialmente mais seguras, inclusive cães e gatos adultos ou idosos já podem passar por cirurgias sem maiores riscos desde que estejam estáveis e em bom estado geral.
Com os resultados dos exames em mãos e determinado o quadro clínico do animal, é escolhido então o protocolo anestésico mais indicado a cada caso. Esta escolha deve ser de responsabilidade do cirurgião, pois ele analisará o caso e saberá qual o método e o protocolo anestésico mais indicado. Escolhas feitas, o animal começa a ser preparado para o procedimento cirúrgico. A primeira coisa a ser feita é a administração da medicação pré anestésica, que tem por função tranquilizar e sedar o animal para que ele possa ser manipulado (punção venosa, cateterismo, intubação, etc). Após, começará a indução anestésica propriamente dita.
Para que um animal seja considerado anestesiado e apto a sofrer o procedimento cirúrgico, ele precisa estar totalmente inconsciente, apresentar relaxamento muscular e analgesia. Existem basicamente três formas de anestesia: local, injetável e inalatória. Veremos agora cada uma delas.
- Anestesia local: utilizada em pequenos procedimentos, exames, biópsias, controle de dor aguda ou crônica. Técnica segura para animais críticos, podendo ainda ser utilizada no trans operatório em conjunto com a anestesia geral. Utilizam-se agentes que bloqueiam a condução nervosa quando aplicados localmente no tecido nervoso. O efeito é reversível, e após seu emprego há recuperação completa da condução nervosa.
- Anestesia inalatória: consiste na administração do anestésico na forma de vapor através de um tubo endotraqueal, atingindo o pulmão e de lá a circulação arterial e por fim, o córtex cerebral, onde exercerá sua ação. O grande diferencial deste método é que o anestésico chega ao cérebro em forma de vapor, possibilitando maior rapidez nas alterações anestésicas. Não ocorre metabolização hepática nem eliminação renal, o fármaco é eliminado diretamente pelas vias respiratórias.
Vantagens:
- Idade não é fator limitante
- Pronta metabolização e eliminação
- Recuperação rápida
- Custo reduzido (menos anestésico e Oxigênio)
- Controle do tempo hábil e planos anestésicos
Desvantagens:
- Requer equipamento específico
- Profissional tecnicamente preparado
Indicações:
- Pacientes Idosos
- Nefropatas
- Hepatopatas
- Cardiopatas
- Animais obesos
- Cirurgias complexas e cruentas (neoplasias, amputações entre outras)
- Anestesia injetável: nesse método o princípio ativo é injetado no paciente (por via intravenosa ou intramuscular), passa pelo sistema porta-hepático para ser metabolizado e depois alcança a circulação arterial, de onde vai até o córtex cerebral para exercer sua ação anestésica. A eliminação é, na maioria das vezes, pelo sistema renal.
Vantagens:
- Obtenção de bons planos anestésicos
- Praticidade de aplicação
- Pode ser utilizado como tratamento das intoxicações por anestésicos locais
- Dispensam aparelhagem específica
- Menor custo
Desvantagens:
- Biotransformação e recuperação tardias
- Relaxamento muscular limitado
- Carência de antagonistas específicos
- Depressão cardiorrespiratória dose-dependente
Indicações:
- Pacientes hígidos (saudáveis) e jovens (< de 7 anos)
- Procedimentos mais simples e rápidos (OSH, Orquiectomia, Laparotomia, profilaxia dentária entre outros)
- Felinos (adquirem bons planos anestésicos com anestesia injetável – dissociativa)
Conta Indicações:
- Cardiopatas, nefropatas e hepatopatas
- Pacientes idosos clínicos ou subclínicos (> 7 anos)
- Pacientes em choque
- Procedimentos muito complexos ou cruentos
- Cesareanas
- Pacientes muito debilitados
Como pudemos perceber então, não existe um método anestésico padrão, cada um terá seus prós e seus contras, assim como cada animal terá suas particularidades e em função disso deverá ser submetido ao procedimento recebendo um protocolo totalmente adaptado a ele. É importante ainda que o profissional sempre considere todos os fatores envolvidos, entre eles os custos, a viabilidade, a experiência, a saúde do animal, os exames complementares, a idade, e a partir daí decida o melhor caminho a seguir a fim de permitir um procedimento seguro e tranqüilo com uma recuperação rápida e plena.
Referências:
SOARES, André Vasconcelos – Anestésicos Locais – Anestesiologia Veterinária, UFSM, 2010
SCHIESS, Guilherme – Anestesia Local: quando e como utilizá-la? – UNESP Botucatu, 2012
POLYDORO, Alexandre da S. - Anestesia Inalatória versus Injetável: uma visão realista de suas aplicações - Laboratório Hennemann, Canoas | RS, 2012
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